domingo, 13 de junho de 2010

Deus quer é enviesar todo mundo.

Só falta pararmos de resistir.





A segunda aula, como já havia se acordado já iniciou com a apresentação do primeiro seminário. O texto era Narrativas Enviesadas da autora Kátia Canton, autora que foi meio que mitificada entre nós por ser jovem e já ter publicado vários livros bons, doutora em artes, nos acompanhou com outros textos que ainda hei de comentar. Querida Kátia, grande companheira da trajetória, queria deixar-te um abraço, mas acho que seria frio demais, a tecnologia me broxa, foi mal Kátia.

A apresentação ficou por conta do Silvano, boa pessoa que domina a geografia como poucos, professor, uma verdadeira aquisição para a turma, e digo mais para a faculdade, e digo mais, para o teatro belenense, pena que parou de frequentar as aulas, espero que não desista do curso. Silvano apresentou com muita riqueza o texto, dando parâmetro históricos e políticos acerca do tema desenvolvido até abarcar a contemporâneidade e o por que das artes começarem esse processo de enviesamento de narrativas, linguagens e técnicas. Seus slides da apresentação continham mapas e localizações da Europa e pequenos adendos sobre as guerras que me deixaram fascinado, gosto de geografia e de física também. Gostei de como ele utilizou o assunto que ele domina para complementar e enriquecer a sua apresentação. Pensei em fazer o mesmo com meu conhecimento de engenharia, mas lembrei que não tinha aprendido muita coisa, ai apenas sorri sozinho, como alguém que está feliz consigo mesmo.


Ai, a vida é doce, depressa demais.
Um abraço pro Neno, meu amigo da engenharia, já te disse pra fazer uma faculdade de filosofia um dia. Seu louco. Grava meus filmes do Luis Buñuel e Bergman. Putz acho que to pensando que isso aqui é o orkut, só mandando abraço, que nem político que tem nojo dos pobres. A tecnologia também tem suas vantagens, não quer abraçar alguém? Então manda o abraço virtual, se poupa desgraçado, até a morte, não quer viver de verdade? se poupa vai.

Sim, voltando, a apresentação do Silvano só deixou a desejar um pouco na profundidade do tema das narrativas em si, ele se empolgou um pouco, acho que pensou que estava dando aula mesmo. Foi até engraçado, ele tem um jeito engraçado em cena (em cena que digo é etnocenologicamente, ele se pondo na frente, para expor o texto, como se tivesse assumido a cena, tudo isso a Wlad já tinha dito para observarmos). Ele tem um jeito meio sofredor de explicar algo, cruza as pernas e apóia um dos cotovelos sobre a coxa põe a mão na testa, sustentando a cabeça com os dedos incador, "cotoco"(ou anelar) e dedão com a cabeça meio abaixada, como o Chico Xavier psicografando ele fala com profundidade e intensidade sem jamais encarar as pessoas nos olhos, com o olhar perdido, como procurando suas palavras nas coisas, chão, cadeiras, frestas, uma figurassa. Muito gente boa o Silvano, eu estava até organizando o primeiro churrasco, futebol e piscina da turma na escola dele, mas o geógrafo não apareceu mais na aula. Deixa eu encontrar ele, vou cobrar. Quem manda prometer... (mentira, ele nem prometeu, mas vou falar pra ele que ele prometeu, haha, sou M.D. cidade velha sempre, YO)

A Patrícia Griggoleto comentou, clareou-se mais o texto, e as narrativas vieram mais a tona.

"Fecha a roda, abre o debate" adoro ouvir a Wlad dizer isso. Debatemos, algumas pessoas podiam ter participado mais, debate bom é com todo mundo se comendo nas palavras.


Fomos ao intervalo. Brincadeiras, músicas e diversão. Somos pessoas sãs, graças a Deus, nos enviesamos nessa vida.

Ao voltar do intervalo a Wlad comandou um exercício de volta ao passado o qual não lembro exatamente muitas coisas, é legal contar com detalhes, por isso me detenho por aqui.


Detalhes não são tudo, são só detalhes. Interessante é fazer de um detalhe, tudo que faça falta.
música do lobão

como é que tudo pode de repente ser nada? a beleza de tudo é a certeza de nada, e que o talvez torne a vida um pouco mais atraente


Uma Delicada Forma De Calor



Eu me lembro
de você ter falado
Alguma coisa sobre mim
E logo hoje, tudo isso vem à tona
E me parece cair como uma luva
Agora, num dia em que eu choro
Eu tô chovendo muito mais do que lá fora
Lá fora é só água caindo
Enquanto aqui dentro, cai a chuva

E quanto ao que você me disse
Eu me lembro sorrindo
Vendo você tão séria
Tentar me enquadrar, se sou isso
Ou se sou aquilo
E acabar indignada, me achando totalmente impossível
E talvez seja apenas isso:
Chovendo por dentro
Impossível por fora

Eu me lembro de você descontrolada
Tentando se explicar
Como é que a gente pode ser tanta coisa indefinível
Tanta coisa diferente
Sem saber que a beleza de tudo
É a certeza de nada
E que o talvez torne a vida um pouco mais atraente

E talvez, a chuva, o cinza,
O medo, a vida, sejam como eu
Ou talvez , porque você esteja de repente,
Assistindo muita televisão

E como um deus que não se vence nunca
O seu olhar não consegue perceber
Como uma chuva, uma tristeza, podem ser uma beleza
E o frio, uma delicada forma
De calor

O põe.tu.de.parto.ida

Começando com grande atraso meu diário de bordo da disciplina Trajetórias do Ser ministrada pela ilustrissíma professora Wlad Lima. Não vou aqui justificar meu atraso nem nada, por que não acredito muito em justificativas, só na minha incompetência mesmo. Isso faz parte dos dragões diários que enfrento. Minha incompetência é um grande dragão, que ás vezes acaricio com a luva macia e fina da preguiça. Minha preguiça não é de vadiagem, mas mais de cansaço.Vivo teatro o dia inteiro, desde ás 8:00 da manhã ás 23:00 da noite, três turnos divididos entre estágio de arte-educador, curso técnico de formação de ator e a lindíssima faculdade de teatro da qual sou aluno orgulhoso. São muitos trabalhos e muitos textos pra ler, fora os seminários, me deixam louco mesmo, fico zé doidin minhas noites lutando contra o sono. Escrever pra mim, requer tempo e prazer e por isso não escrevi logo apos ás aulas como deveria. Sou menino Caetano, tudo comigo tem que ter prazer, mesmo acreditando na tristeza de isso ser impossível no tempo integral da vida, mas até na tristeza procuro ter prazer, se choro é por que quero e me sinto bem chorando.


Vejam só, já me justiquei todo ai, as coisas não sairam como planejei.
Esses textos que escreverei não são compostos como textos e sim como pensamentos que mutam e se destroem para construir algo que não sei ainda, mas essa talvez seja só a trajetória do meu ser.



destruir pra depois construir, multilar, recortar, colar pensamentos, opor eles, e o resultado já não é o que voce queria no começo, isso é a evolução, que não pode ser só construtora, mas para que haja, é preciso sacrifício, como Jesus na cruz. Isso me lembra a faculdade de engenharia civil. A faculdade de engenharia civil sempre me lembra Lego, e eu adoro Lego.

música do lobão, uma delicada forma de calor




ok, foco no primeiro dia de aula
foi uma curiosidade enorme pra saber quem eram as pessoas com quem íamos conviver durante 4 anos de nossas vidas, e estudar/fazer teatro é claro. Não via a hora de comungar tempo com essas pessoas, apesar de já ter idéia de quem eram.

A sala era a sala 05 da Escola de Teatro e Dança da UFPa. As cadeiras estavam arrumadas como palco italiano, platéia e público, não muito diferente de uma sala de aula, onde podia se fazer uma confusão etnocenológica, sala de aula? teatro? algo que vai me acompanhar durante a disciplina toda, mas isso comento depois.
A Wlad parecia muito contente esse dia, pediu que desfizessemos a formalidade das cadeiras organizadas a lá italiana e formassemos um círculo. Começou então a explicar um pouco da disciplina e entregou uma apostila com o programa da disciplina para cada um dos alunos, com esquemas do curso e etc. Na apostila havia o currículo artístico e acadêmico da Wlad, um currículo e tanto, invejável, a Wlad é sempre uma pessoa preocupada conosco, isso é ótimo, foi logo dando uns toques e atentando para a formação de um currículo artístico, as habilidades com as quais queremos dialogar quando artistas, que autoridade queremos ter com determinados conhecimentos.

todas as aulas teriam um esquema de funcionamento que incluiam uma experimentação cênica. O exercício do primeiro dia seria a sua apresentação, uma das cadeiras da roda vazia, e você iria se apresentar da forma que você quisesse. O comando era: se pôr em cena.


vou fazer uma tretagem agora aqui, com toda a licença ta formalidade. É um momento em que me permito ser maloquero e ousado como se tivesse que sobreviver na rocinha. Vou colar aqui direto do blog do Paulo a ordem das apresentações com algumas observações dele muito pertinentes. Eu estou consultando ávidamente o blog dele para me relembrar de algumas coisas das aulas.

"Na ordem de idas ao palcadeira, com algumas citações que piscaram pra mim e com alguns comentários (quando apareceram): Renan (disputou o desvirginamento da cadeira com o Icaro e colocou-a no meio da roda); Icaro (trajetória para chegar no curso, reprovação no vestibular, aceitação na turma passada); Carmen (cria do curro); Adhara (17 anos, fazendo teatro no colégio, preocupada em não ser só um grupo de colégio); Kátia (gosto de ser platéia); Caroline (UNIPOP, sei o que aprendi com a Marluce Oliveira); Romário (artes visuais); Eu (trabalho sobrevivência); Rafael (aparente revolta por não viver de teatro. Tem que fazer e acabar o que fez); Leandro (sou satanás. ...se Deus quiser); Walace (cenografia); Ivis (bacharel em biologia, Administração, psicopata, disturbio de atenção); Maira (teatro como terapia); Devison (confuso); Maurício (se não fosse o teatro estaria em má companhia); Felipe (de Cametá. Nunca fez teatro, só viu teatro na semana do calouro); Kayo (meio tímido); Ramon (faço as coisas me entregando para os impulsos. Quero ser minha vitrine); Patrik (Letras/Alemão. Sempre vi as artes me rodeando. Muita coisa do teatro faz parte do cotidiano. Teatro é vida); Patrícia (amo meu nome. Estou com medo de vocês. Católica. Ps.: falou por uns 15 minutos. Segurou todos, ficou totalmente à vontade na cadeira/palco, só falou da sua vida. Ficamos intimos dela); Regiane (grupo cênico do Curro velho); Jean Lion (Gracinha com o seu dedo do pé defeituoso para ganhar a platéia. Foi genérico); Silvano (trabalho com geografia. Teatro é uma mistura, uma trama. Saiam trabalhadores da educação); Markson (trabalhador de teatro. Letras/Alemão); Rose (Prazer em estar aqui)."

No plano de aula, estavam incluidos seminários que teríamos que apresentar sobre textos que a Wlad daria. Cada texto seria apresentado por uma dupla: um expositor do texto e um comentador, que ficaria responsável por linkar o texto com alguma produção teatral local, preferencialmente.

A aula funciona com a nossa participação, foi algo que ficou muito claro, todo assunto em pauta deveria ser debatido, como desdobramentos, dos textos de forma que quanto mais partiparmos mais seria interessante.

Depois a Wlad quis fazer um exercício, pediu quatro pessoas, ficou aquele clima de tensão, joguei o corpo, quase ao mesmo tempo vieram a Rose, o Ives e o Renan Delmont (Ramón Renan Delmont Rivera, como nos batizamos, para ninguem confundir mais nossos nomes). A mestra disse para pensarmos numa frase que tinhamos dito na nossa apresentação na cadeira e assumirmos a nossa posição de dormir e levantariamos no tempo de 1 a 4 dizendo essa frase até assumir uma posição de total desequilíbrio. Brincamos com isso durante um tempo, com os tempos e as formas de dizer, a ordem de como iríamos dizer, juntamos as frases de cada um de maneira diferente, as frases que colamos, quando cheguei em casa colei de maneira diferente:

- "Sobrevivo de teatro" Rosetunãs
- "da qual me orgulho e mergulho" Renan Ramón
- "eu sou um psicopata" Ives Nelson
- "Teatro ou vida? Teatro é vida" Eu

colei:
Teatro ou vida? Teatro é vida, da qual me orgulho e mergulho, eu sou um psicopata, Sobrevivo de teatro.


A Wlad estava certa, juntando nossas frases já podiamos montar algo, cena.


A aula acabou ai, e por aqui me encerro.